17 de maio de 2021

Armários vazios

Neste dia 17 é comemorado o Dia Internacional contra a LGBTfobia e nós, enquanto LGBTQIA+, dentro das nossas mais diversas vivências e experiências, sabemos como a aceitação é um processo difícil para muitas pessoas. Enfrentamos preconceito, bullying, insegurança e medo até a tão famosa saída do armário.

Não existe um manual de como sair desse armário. As reações muitas vezes são imprevisíveis, inclusive as nossas próprias. “O que muda na minha vida depois que eu sair?”. Não existem as palavras certas nem o momento certo. Você já saiu do armário? Lembra como foi? Como tem sido de lá pra cá?

O Jornalista Rafael Santos, formado aqui pela UEPG, fez uma série de reportagens chamada “Violências Subjetivas” (https://violenciassubjetivas.wordpress.com/) onde algumas pessoas relatam suas vivências em relação a essa aceitação e saída do armário:

“A partir do momento que eu fui encontrando outras pessoas, que eu tive meu primeiro contato físico e sexual, aí foi apertando, mais e mais, em relação aos meus pais. Não existiu um dia que eu cheguei para eles e disse que era gay. Foi um processo de aceitação natural e as coisas foram sendo jogadas verbalmente por eles sem muito diálogo”.

“Uma certa vez, eu e minha mãe estávamos voltando das compras e no terminal de ônibus eu vi duas mulheres se beijando. Por mais que fosse meu primeiro contato com essa realidade eu não me espantei, muito pelo contrário, aquele casal de sapatão me soou muito familiar. Era como se eu estivesse me reconhecendo ao ver duas mulheres juntas, sabendo que isso seria possível de acontecer”.

“Eu achava que era errada, tentava fugir ao máximo disso. Mas, aos 15 anos, eu beijei um moço e foi surreal, porque foi um mix de sentimentos, foi bom, mas senti culpa e parecia que a partir daquele momento todos começaram a me perceber ainda mais como diferente”.

E, em contraponto ao que nos prende, há na sociedade o que nos ajuda a nos libertar. Há algo além dos muros do atraso e da intolerância, pessoas e espaços que nos ajudam no processo de nos sentirmos aceitos e confortáveis – com o que há em nosso interior, e com o que há em nosso exterior.

Um desses principais espaços é a balada voltada ao público LGBTQIA+. É o local onde encontramos mais pessoas com as quais nos identificamos. Nos sentimos seguros, libertos, sem julgamentos e preconceitos embalados por algo também muito importante nesse processo todo: a música. Ritmos e letras que representam muitas vezes a coragem que precisamos. Ou a leveza, ou, ainda, nos trazem uma diversão que nos transporta para um mundo onde os problemas não são protagonistas.

Hoje, com a pandemia, estamos infelizmente sem esses espaços para dançar e extravasar quem realmente somos. Aguardamos ansiosos a vacinação para que possamos nos aglomerar novamente.

Enquanto isso, continuamos resistindo e lutando quanto ao ódio e a intolerância e que prevaleça o amor, respeito e a igualdade. E, que possamos de alguma forma aproveitar essa data para nos expressar, agora que temos limitações para isso. Somos mais fortes juntos, certamente, mas o momento que pede distanciamento não é capaz de nos diminuir. Continuamos aqui. Mirando em dias melhores, como sempre fizemos.

Foto: DZVK

Dedicamos este texto a David Levisio, Marcos Vinício Bozzana da Fonseca e Lindolfo Kosmalski. Jovens paranaenses mortos recentemente com suspeita de assassinato provocado por homofobia.

por Erick Teixeira e Guilherme Martins.

Fotos: DZVK

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